quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Ôrunmìlá é a incorporação da sabedoria


Meus irmãos, dando continuidade ao projeto Espaço dos Leitores, trazemos mais um texto gentilmente cedido pelo Da Ilha (Ary).
Òrúnmìlá é a incorporação da sabedoria (Ògbón), da paciência (suurú), do conhecimento, e da mistificação divinatória no sentido mais puro. Òrúnmìlá é a testemunho a todos os destinos (Èlèri ípìn), o senhor do dia (Olójó). Ifá é a arte da adivinhação, aquilo que está além da nossa imaginação e do sub-incosciente.
Isso mostra que Ifá e Òrúnmìlá são quase os mesmo, mas o ponto que diferencia, é que Òrúnmìlá foi um grande sacerdote e Ifá o sistema de adivinhação criado por Ele.
Òrúnmìlá é a divindade e Ifá é o sistema onde esta divindade se manifesta. Não há Ifá sem Òrúnmìlá e nem Òrúnmìlá sem Ifá. Estes dois conceitos são tão intimamente relacionados que muitas vezes referimo-nos a Òrúnmìlá como Ifá.
Òrúnmìlá é a divindade da sabedoria e do conhecimento, responsável pela transmissão das orientações das “divindades” e de nossos ancestrais, de maneira a permitir a cada um de nós a possibilidade de uma escolha acertada para uma vida feliz.
Òrúnmìlá é aquele que estava presente, ao lado de Olódùmarè, quando a Vida, o Mundo e o Homem foram criados. Òrúnmìlá tudo vê, tudo sabe e tudo conhece. Não há nada que tenha sido criado ou que virá a ser criado que Òrúnmìlá não saiba antes. Òrúnmìlá conhece a vida e conhece a morte, ele conhece a existência: o antes e o depois. Por isso ele pode ajudar.
Ijùb
Ìbà Ògéré afòkó yerí
Ìbà atí yò ọjọ
Ìbà atí wò run
Ìbà Olójó Oní
Ìbà Égun ilé
Ìbà àgbà
Ìbà Bàbálòrìsà (Ìyàlòrìsà)
Ìbà ómó òrìsà
Ìbà ómódé
Awà egbé odò Òrúnmìlá jùbá ô, ki ìbà wà se
T’ómódé ba jùbá bàbá re, àgbélé ayè n pè
Àdá se nìí hun ọmọ
Ìbà kìí hun ọmọ ènìyàn
Akóògba kìí hun Olóko
Àtípá kìí hun Ò
Asợ fúnfún kìí hun Olórìsà
K’ayè oyé wà ô
Ka ríba tí ÿe
Ka ma r’ìjà ọmọ arayè ó
Ka’ ma r’ìjà Eléye ô
Mo jùbá ô! Mo jùbá o! Mo jùbá o!
Àse.
Eu saúdo Olódùmarè
Eu saúdo Òrúnmìlá
Eu saúdo o senhor dos mares, o dono da casa.
Eu saúdo Èsù
Saúdo os Irùnmolè, os òrìsà
Saúdo a terra e que ela não me recuse
Saúdo o dia que amanhece
Saúdo a noite que vem
Saúdo o dono do dia
E saúdo o Égun da casa, nosso ancestral
Saúdo os velhos sábios
Saúdo o Oló/Ìyàlòrìsà
Saúdo os iniciados da casa.
Saúdo as crianças
Nós, que cremos em Òrúnmìlá,
Saudamos e esperamos que Òrúnmìlá ouça nossa saudação
Pai da sorte, eu o chamo para seivar a terra
O filho que reverencia seu pai terá longa vida e por nada sofrerá
Que a nossa saudação, a nós poupe sofrimentos
Que as plantas boas não falhem ao agricultor
Que aos mortos não falte sepultura
Que a Orisa’nlá não falte o pano branco
Para que o mundo nos seja bom
Que nossos caminhos se abram
Que não vejamos a discórdia dos povos sobre a terra
 Nem a obra das feiticeiras, Ìyàámí Osorongà
Nós saudamos, saudamos, saudamos
 Àse o!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015



Conta-se no Brasil que Oxossi era irmão de Ogum e de Exu, todos os três filhos de Iemanjá. Exu era indisciplinado e insolente com sua mãe e por isso ela o mandou embora. Os outros dois se conduziam melhor. Ogum trabalhava no campo e Oxossi caçava na floresta das vizinhanças, de modo que a casa estava sempre abastecida de produtos agrícolas e de caça.
Iemanjá, no entanto, ainda inquieta resolveu consultar um babalaô. Este lhe aconselhou a proibir que Oxossi saísse à caça, pois se arriscava a encontrar Ossain, aquele que detém o poder das plantas e que vivia nas profundezas da floresta.
Oxossi ficaria exposto a um feitiço de Ossain para obrigá-lo a permanecer em sua companhia.
Iemanjá exigiu, então, que Oxossi renunciasse as suas atividades de caçador. Este, porém de personalidade independente, continuou suas incursões à floresta. Ele partia com outros caçadores, e como sempre faziam, uma vez chegados juntos a uma grande árvore, separavam-se, prosseguindo isoladamente, e voltavam a se encontrar no fim do dia e no mesmo lugar.
Certa tarde,Oxossi não voltou para o reencontro, nem respondeu aos apelos dos outros caçadores. Ele havia encontrado Ossain e este lhe dera pára beber uma poção onde foram maceradas certas folhas, como a amúnimúyè, cujo nome significa “apossa-se de uma pessoa e de sua inteligência”, o que provocou em Oxossi uma amnésia. Ele não sabia mais quem era nem onde morava. Ficou, então, vivendo na mata com Ossain, como predissera o babalaô.
Ogum inquieto com a ausência do irmão partiu à sua procura, encontrando-o nas profundezas da floresta. Ele o trouxe de volta, mas Iemanjá não quis mais receber o filho desobediente. Ogum, revoltado pela intransigência materna, recusou-se a continuar em casa (é por isso que o lugar consagrado a Ogum está sempre instalado ao ar livre). Oxossi voltou para a companhia de Ossain, e Iemanjá, desesperada por ter perdido seus filhos, transformou-se em um rio.
Fonte: Livro: Os Orixás - Pierre Fatumbi Verger

domingo, 12 de julho de 2015

Egungun


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Traje iorubá para egungum em exibição no Museu Estadunidense de História Natural, em Nova Iorque
Egungum (do iorubá egungun) é um termo das religiões de matriz africana que designa os espíritos de pessoas mortas importantes, que retornam à terra. O termo faz parte da mitologia iorubá.1

África
Segundo a tradição do culto dos eguns, é originário da África, mais precisamente da região de Oyó. O culto de Egungum é exclusivo de homens, sendo Alápini o cargo mais elevado dentro do culto, tendo, como auxiliares, os ojés. Todo integrante do culto de egungum é chamado de Mariwó. Na África, Xangô é considerado a encarnação do deus primordial do sol, raios e tempestades. Xangô seria a encarnação de Jakutá, que é considerado a mão de Olorum que pune, o caráter punitivo de Olorum, ele representa o poder de Olorum, tanto que fora enviado ao mundo em criação para estabelecer a ordem entre Oxalá e Oduduá, que são as duas divindades que foram encarregadas por Olorum da criação.

Desta forma, Xangô é cultuado como um orixá egungum, orixá por ele ser nada mais nada menos que o orixá da execução, da punição divina e egungum por ele ter tido sua passagem pela terra como homem e ter se iniciado. Xangô foi o criador do culto de egungum; foi o primeiro ojé (sacerdote do culto aos mortos); e também foi o primeiro alapini (sumo-sacerdote do culto aos mortos). Isso é evidenciado em um de seus oriquis, que fala:
Rei do trovão (raios)
Rei do trovão (raios)
Encaminha o fogo sem errar o alvo (alusão aos raios), nosso vaidoso ojé
Xangô alcançou o palácio real
Único que possuiu Oiá
Grande líder dos orixás
Rei que conversa no céu e que possui a honra dos ojés
Rei que conversa no céu e que possui a honra dos ojés.

Xangô criador de Culto a Egungun

Babá Abaolá por Carybé.
Xangô é o fundador do culto aos eguns, somente ele tem o poder de controlá-los, como diz um trecho de um Itã:
Em um dia muito importante, em que os homens estavam prestando culto aos ancestrais, com Xangô à frente, as Iyámi Ajé fizeram roupas iguais às de Egungun, vestiram-na e tentaram assustar os homens que participavam do culto. Todos correram menos Xangô, que ficou e as enfrentou, desafiando os supostos espíritos. As Iyámis ficaram furiosas com Xangô e juraram vingança. Em um certo momento em que Xangô estava distraído atendendo seus súditos, sua filha brincava alegremente: subiu em um pé de obi, e foi aí que as Iyámis Ajé atacaram e derrubaram a Adubaiyani, filha de Xangô que ele mais adorava. Xangô ficou desesperado, não conseguia mais governar seu reino, que, até então, era muito próspero. Foi até Orunmilá, que lhe disse, então, que Iyami era quem havia matado sua filha. Xangô quis saber o que poderia fazer para ver sua filha só mais uma vez, e Orunmilá lhe disse para fazer oferendas ao orixá Iku (Oniborun), o guardião da entrada do mundo dos mortos. Assim Xangô fez, seguindo, à risca, os preceitos de Orunmilá. Xangô conseguiu rever sua filha e tomou para si o controle absoluto dos mistérios de egungum (ancestrais), estando agora sob domínio dos homens este culto e as vestimentas dos eguns, e se tornando estritamente proibida a participação de mulheres neste culto. Caso essa regra seja desrespeitada, se provocará a ira de Olorun, Xangô, Iku e dos próprios eguns. Este foi o preço que as mulheres tiveram que pagar pela maldade de suas ancestrais.

Traje da dança egungun no Brooklyn Museum, em Nova Iorque


Brasil
Egungum2 é o espírito ancestral de pessoa importante, homenageado no culto aos egunguns. Esse culto é feito em casas separadas das casas de orixá. No Brasil, o culto principal a egungum é praticado na ilha de Itaparica, no estado da Bahia, mas existem casas em outros estados. Normalmente, é chamado de Babá (pai) Egun e Babá-Egun. Também pode ser referido como Êssa, nome dos ancestrais fundadores do Aramefá de Oxóssi (conselho de Oxóssi, composto de seis pessoas). Ou Esa, espírito dos adoxu e dignitários do egbe (casa). Os nagôs cultuam os espíritos dos mais velhos de diversas formas, de acordo com a hierarquia que tiveram dentro da comunidade e com a sua atuação em prol da preservação e da transmissão dos valores culturais. E só os espíritos especialmente preparados para serem invocados e materializados é que recebem os nomes egum, egungum, Babá Egun ou simplesmente Babá (pai), sendo objetos desse culto todo especial.

Porque o objetivo principal do cultos dos eguns é tornar visíveis os espíritos dos ancestrais, agindo como uma ponte, um veículo, um elo entre os vivos e seus antepassados. E, ao mesmo tempo que mantém a continuidade entre a vida e a morte, o culto mantém estrito controle das relações entre os vivos e mortos, estabelecendo uma distinção bem clara entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos (os dois níveis da existência). Assim, os babás trazem, para seus descendentes e fiéis, suas bênçãos e seus conselhos mas não podem ser tocados, e ficam sempre isolados dos vivos. Suas presença é rigorosamente controlada pelos ojé (sacerdotes do culto) e ninguém pode se aproximar deles.

Os egunguns se materializam, aparecendo para os descendentes e fiéis de uma forma espetacular, em meio a grandes cerimônias e festas, com vestes muito ricas e coloridas, com símbolos característicos que permitem estabelecer sua hierarquia. Os Babá Egun ou Egun Agbá (os ancestrais mais antigos) se destacam por estar cobertos com uma roupa específica de egum, chamada de eku na Nigéria ou "opá" na Bahia: são enfeitadas com búzios, espelhos e contas e por um conjunto de tiras de pano bordadas e enfeitadas que é chamado abalá, além de uma espécie de avental chamado "bantê", e por emitirem uma voz característica, gutural ou muito fina.

Os Aparaká são eguns mais jovens: não têm abalá nem bantê e nem uma forma definida; e são ainda mudos e sem identidade revelada, pois ainda não se sabe quem foram em vida. Acredita-se, então, que, sob as tiras de pano, encontra-se um ancestral conhecido ou, se ele não é reconhecível, qualquer coisa associada à morte. Neste último caso, o egungum representa ancestrais coletivos que simbolizam conceitos morais e são os mais respeitados e temidos entre todos os egunguns, guardiães que são da ética e da disciplina moral do grupo. No símbolo egungum, está expresso todo o mistério da transformação de um ser deste mundo num ser do além, de sua convocação e de sua presença no Aiyê (o mundo dos vivos). Esse mistério (Awô) constitui o aspecto mais importante do culto.

Commons
O Commons possui imagens e outras mídias sobre Egungun
Referências
 FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 621.
Bibliografia
Mestre Didi
Júlio Santana Braga
O Culto de Babá Egun em Ponta de Areia (1980-1984). Ancestralidade em Ponta de Areia: mulheres, crianças e o exercício da autoridade. Revista da Bahia, 1989.
Gente de Ponta de Areia: ancestralidade na dinâmica da Vida Social de uma Comunidade Afro-Brasileira. Revista do Departamento de Antropologia da Ufba, Salvador:UFBA, 1984.
Ancestralidade Afro-Brasileira. Salvador, Ianamá/CEAO/Edufba, 1992.
Ligações externas
Em Inglês:
Sixteen Cowries: Yoruba Divination from Africa to the New World Por William Russell Bascom
Egungun: The Masked Ancestors of the Yoruba
Egungun Festival
Egungun Mysteries Come to America
Egun/Egungun cult


Iwi Egungun Oludare Olajubu
Em Português:
Alapini Mestre Didi Asipa
Egungun no Candomblé
Ancestralidade Africana no Brasil - Projeto Egungun

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Versos de Ifá e a sua utilidade:



Ogbè Méjì – Fala sobre respeito a figura materna.
Ìretè Méjì - Fala sobre o uso Ewé Tete.
Òtúá Méjì – Fala sobre o uso da esteira para adivinhação.
Òyèkú Méjì – Fala que o homem deve ter somente uma mulher.
Ìwòrì Ogbè – Fala da criação dos Ikins.
Òdí Méjì – Fala da necessidade de ouvir os outros.
Òbàrà Méjì – Fala de lavar a cabeça com folhas para obter bons resultados.
Ògúndá Méjì – Fala que o homem obtém reconhecimento com seu trabalho.
Òtúrúpòn Méjì – Fala sobre o uso da Ewé gbegi e da necessidade de alimentar o ifá constantemente.
Ogbe Otura – Fala sobre a hierarquia no ifá.
Ogbe Ose – Fala sobre o uso do ekodide.
Oyeku Ogbe – Fala da necessidade de consultar o Bàbàláwo.
Oyeku Owonrin – Fala que o adultério levará a morte.
Oyeku Ogunda – Fala que fazendo o ebó a pessoa supera o problema.
Oyeku Oturupon – Fala sobre a necessidade de perdoar.
Oyeku Otura – Fala que a pessoa tem a sorte dupla.
Oyeku Ose – Fala da saudação aos babalawos.
Iwori Odi – Fala sobre o sexo dos bichos a serem sacrificados.
Iwori Okanran – Fala que a pessoa mente ao Bàbàláwo / Iyanifa
Iwori Osa – Fala da falta de caráter.
Iwori Irete – Fala da necessidade de dar esmolas e ter bom caráter para evoluir.
Iwori Ose – Fala que quem tem bom caráter será recompensado.
Iwori Ofun – Fala que a pessoa deve respeitar quem merece.
Odi Oyeku – Fala que a pessoa deve ter uma postura digna.
Odi Obara – Fala que a pessoa deve manter algumas coisas privadas.
Odi Otura – Fala que a pessoa deve consultar antes de casar.
Odi Ofun- Fala sobre a necessidade de ebó.
Ìrosùn Obara – Fala sobre a necessidade de estudar.
Ìrosùn Ogunda – Fala que não se deve pedir coisas negativas a Exu.
Ìrosùn Osa – Fala que a pessoa deve ter Iniciação para ter sucesso.
 Ìrosùn Ika – Fala de prestigio, fama e reconhecimento.
Ìrosùn Oturupon – Fala sobre animais de uma única cor para sacrificar em ebós para adquirir prestigio.
Ìrosùn Irete – Fala sobre iniciação em ifá, Itefa.
Ìrosùn Ose – Fala sobre a necessidade de consultar ifá.
Ìrosùn Ofun – Fala sobre a necessidade de lavar o ori com Omiero.
Owonrin Ogbe – necessidade de agradar Exu.
Owonrin Odi – Fala de fazer caridade para prosperar.
Owonrin Ìrosùn – Fala de alimentar o ori para ter sucesso.
Owonrin Osa – Fala em fazer ebó para obter êxito na vida sentimental.
Owonrin Ika – Fala sobre examinar tudo com muito cuidado para ter sucesso.
Obara Odi – Fala que a promiscuidade prejudica.
Obara Osa – Fala sobre inadimplência.
Obara Oturupon – Fala sobre problemas para concepção.
Obara Ose – Fala que aquele que não cumpre as regras não evolui.
Okanran Ogbe – Fala sobre iniciação em ifá.
Okanran Owonrin – Fala sobre o pagamento do Bàbàláwo, nesse odu o Bàbàláwo deve doar grande parte do dinheiro recebido.
Okanran Obara – Fala sobre perda de bens.
Okanran Ogunda – Fala da criação do mundo, Odu que Orunmila veio a terra.
Ogunda Ogbe – Fala da mulher que manda no marido.
Ogunda Owonrin – Fala sobre inveja.
Ogunda Oturupon – Fala sobre boa sorte, riqueza, abundancia.
Ogunda Okanran – Fala sobre comercio improdutivo.
Ogunda Ose – Fala que as crianças não devem ser castigadas.
Osa Iwori – Fala sobre a necessidade de usar obi.
Osa Obara – Fala sobre a necessidade de mudar-se para ter sucesso.
Osa Okanran – Fala sobre pessoa deve construir uma casa sozinha para ter felicidades.
Osa Otura – Fala sobre dizer sempre a verdade.
Osa Ofun – Fala da necessidade de manter os ewos.
Ika Odi – Fala sobre desobediência e o desrespeito aos mais velhos.
Ika Okanran – Fala sobre maus mau hábitos.
Ika Osa – Fala sobre covardia.
Ika Oturupon – Fala sobre tocar Iroke para afastar coisas ruins.
Ika Ofun – Fala sobre as regras do iniciado.
Oturupon Oyeku – Fala sobre convidar as pessoas a vir em casa para progredir.
Oturupon Ìrosùn – Fala sobre problemas conjugais.
Oturupon Obara – Fala sobre manter o corpo saudável.
Oturupon Ogunda – Fala sobre a necessidade de educar os filhos.
Oturupon Osa – Fala sobre problemas com filhos.
Oturupon Otura – Fala sobre a criação do calendário, que a semana Yoruba tem quatro dias.
Oturupon Ose – Fala sobre o uso da pimenta para afastar a morte.
Otura Ogbe – Fala sobre a impotência masculina, odu que oferece milho como ebó.
Otura Owonrin – Fala sobre a reencarnação.
Otura Osa – Fala sobre não pode fazer sociedade com alguém.
Otura Oturupon – Fala sobre Ewó bebida alcoólica, impedimento de dendê a Obàtálá uso do pano branco em ebó, Ewó de emu (vinho de palma).
Otura Ose – Fala sobre tomar banho com ose Dudu em forma de ebó.
Irete Ogbe – Fala de dar mel ao ifá.
Irete Oyeku – Fala de soltar os animais do ebó.
Irete Ogunda – Fala sobre usar nos ebós banana, banha de ori e camarão.
Irete Osa – Fala do uso do mel nos ebós.
Ose Ogbe – Fala sobre o uso da roupa branca.
Ose Oyeku – Fala sobre a necessidade de lavar os olhos para entrar em um lugar sagrado.
Ose Iwori – Fala sobre a menstruação.
Ose Odi – Fala sobre não poder ter compaixão com o inimigo.
Ose Owonrin – Fala sobre o uso das cinzas nos ebós.
Ose Obara – Fala sobre o uso de bagre em Ifá.
Ose Okanran – Fala sobre o uso de efun e o osun nos ebós.
Ose Ogunda – Fala sobre o uso das penas de agbe, aluko, odire nos ebós.
Ose Oturupon – Fala sobre o sacrifício dos igbins nos ebós.
Ose Otura – fala sobre o uso de Ewé abamoda, o uso do dedo mediano para marcar odu.
Ofun Ìrosùn – Fala sobre o sacrifício de mel.
Ofun Ogunda – Fala sobre o uso de carnes nos ebós.
Ofun Ika – Fala sobre colocar roupas novas após o banho.
Ofun Oturupon – Fala sobre o uso búzios para ebó.
Ofun Irete – Fala sobre o uso da agua nos ebós.
Ofun Ose – Fala sobre o uso de folhas de ifá embaixo do travesseiro como ebó.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

O OVO (EYIN) E SUA IMPORTÂNCIA DENTRO DO CULTO AOS ÒRÌSÀ

O ovo e sua importância e utilidade dentro da nossa Liturgia, Preceitos e Fundamentos.
O ovo é o principal e maior símbolo da fertilidade, utilizado amplamente nos rituais de INICIAÇÃO, EBORÍ, EBO para reativar a energia positiva como também retirar as energias negativas.
Existem vários ITAN dos Tratados de IFÁ relatando a grande importância do EYIN.
Um deles conta que OLÓDÙMARÈ estava para dar origem ao universo, tinha num pote de barro “4 ovos”.
Com o 1º ovo, deu origem a ÒÒSÀÀLÁ, ÒRÌSÀNLÁ ou OBÀTÁLÁ, surgindo na explosão da luz, sem forma, assim ÒÒSÀÀLÁ surgiu no mundo.
Com o 2º ovo, deu origem a ÒGÚN, a forma.
Com o 3º, deu origem a OBALÚWÀIYÉ, a estrutura.
O 4º ovo acidentalmente cai de suas mãos, estourando-se no chão e revelando sua riqueza.
Originou-se assim, a primeira Mãe ancestral chamada ÌYÁMI-ÒSÒRÓNGÁ, expondo o segredo de sua riqueza para o grande PAI, ou seja, mostrando seu poder de fertilidade sobrenatural, exposto a olho nu, diante do Deus Supremo, nascendo assim a fonte mantenedora da vida.
O Ovo possui três diferentes cores, associado às cores principais e primordiais do universo:
– o ovo de casca azul, representando a cor preta DÚDÚ relacionada com a escuridão (a falta de luz nas profundezas da terra e dos mares).
– O ovo de casca branca, relacionada a explosão da luz.
– O ovo de casca vermelha, relacionada ao ÀSE = fogo mantenedor da fertilidade totalmente relacionado ao poder astral.
Seu conteúdo possui diversas características e a maioria das vezes, é branco, frágil e oval; dele nasce um novo ser associado à idéia de que o universo surgiu primordialmente dele próprio, na forma de um protótipo do mundo, como um filho de asas negras = ÌYÁMI-ÒSÒRÓNGÁ,
que foi cortejada pelo FUN FUN (branco) = ÒÒSÀÀLÁ, ÒRÌSÀNLÁ ou OBÀTÁLÁ.
O ovo é uma célula reprodutora feminina dos animais, chamada macro-gameta ou seja, rudimento de um novo ser organizado e primeiro produto do encontro dos dois sexos, pelos quais desenvolve a possibilidade de existência do feto.
Origem e princípio, uma imagem viva do grande mundo (O Universo), em oposição ao microcosmo (o homem).
O Ovo é resultante da composição e fecundação de óvulos, possuindo 4 partes:
A 1ª parte é a casca, que representa o útero (invólucro mítico).
A 2ª parte é a membrana interna, que representa a bolsa, placenta uterina (parede defensora).
A 3ª parte é a clara, matéria viscosa e esbranquiçada, do grupo das proteínas que representa o útero.
A 4ª parte é a gema amarela, parte intima central e globular, suscetível de reproduzir, a qual representa o feto, um novo ser esta sendo gerado, preparado para nascer e atuar no que for necessário.

O mito do ovo está presente em todas as culturas antigas, entre elas a Africana, Fenícia, Chinesa, Eslava, Polinésia, Hindu, Hebraica e demais.
A força germinal contida no ovo, esta associada à energia vital com grande desenvolvimento através de ÈSÙ, motivo pelo qual, tanto o ovo, quanto ÈSÙ desempenham uma função importantíssima no CULTO aos ÒRÌSÁ, principalmente no culto de ÌYÁMI-ÒSÒRÓNGÁ, ÒSUN, YEWÀ, OYA, OBALÚWÀIYÉ.
Confirmando uma total conexão com a fertilidade, magias para o amor, purificando e quebrando forças maléficas.
A gema, sangue germinal unida à clara vamos ter nutrientes e hidratação, transformados num único ser vivo individual no interior do ovo; plagiando o mesmo processo no interior do útero, que indiscutivelmente é o mesmo processo que acontece nos nossos rituais, a mesma idéia de união do casal universal OBÀTÁLÁ e YEMOWO.
Mas no contexto do ovo acontece mais rapidamente, não existindo nenhum tipo de vínculo biológico entre a mãe e o filho, ou seja, não existe cordão umbilical.
Isto explica o poder contido no ovo por si só, o qual foi um elemento criado diretamente pelo todo poderoso OLÓDÙMARÈ, que colocou primeiramente o Ovo no mundo, logo depois surgindo dele a vida, ou seja, a ave.
Por isso, o ovo é um elemento originado diretamente pelo Criador, o símbolo mais importante que representa o poder de ÌYÁMI-ÒSÒRÓNGÁ, Mãe Ancestral, que necessita intrinsecamente do poder masculino de ÒÒSÀÀLÁ, ÒRÌSÀNLÁ ou OBÀTÁLÁ, o qual faz do ovo um elemento de muito ÀSE (poder realizador).
O ovo é utilizado amplamente em vários rituais dos nossos preceitos, que depois de encantados com os OFÒ, ORÍKÌ ou GBÀDÚRÁ; tem a finalidade de neutralizar o mal, as energias negativas e purificar o ORÍ dos OMO ÒRÌSÀ KON.
Sendo um elemento de manipulação, atua como agente de purificação nos EBO entes da INICIAÇÃO dos OMO ÒRÌSÀ KON; melhora assim o ORÍ que ira receber as oferendas do EBORÍ; para que o nosso ÒRÌSÀ ORÍ que é a central de ligação entre o nosso corpo com o nosso ÒRÌSÀ ÈLÉÈDÁ esteja em perfeita harmonia; é o caminho para podermos superar os obstáculos em nossa vida, para que esta possa estar em harmonia e energeticamente positiva.
O ovo também é utilizado com a finalidade de se obter fertilidade, atrair dinheiro, produtividade nos negócios e serenidade em certas situações.
O ovo cozido é utilizado inteiro sobre os EBO ( oferendas) para os ÒRÌSÀ.
Quando cozido e esfarinhado e misturado ao EKURU também esfarinhado, é espalhado sobre o solo da casa dos ÒRÌSÀ, tendo a finalidade de agradar as ÁJÈ ( feiticeiras astrais), neutralizando as energias negativas, quando é invocado neste ritual.
As ÁJÈ, sob o domínio de ÌYÁMI-ÒSÒRÓNGÁ, ÈSÚ e OBALÚWÀIYÉ, propiciarão abundancia e prosperidade para a Casa Templo.
O ovo cru quando utilizado inteiro em oferendas, tem a função de tranqüilizar e acalmar.
Por isso é comum vermos muitos ovos crus colocados nos pés de certos OJÙBÓ (assentamentos dos ÒRÌSÀ).
A finalidade será de atrair abundância e proteção, fazendo com que todos os ÒRÌSÀ compreendam perfeitamente que o EBO é uma suplica, e, dependendo da força energética e essência de cada ÒRÌSÀ, esta não só atuará no tocante a fertilidade mais também proporcionara dinheiro, sorte, saúde e desenvolvimento na vida.
Já quando quebrados diretamente na cabeça, têm a função poderosa de purificar e livrar até 80% de qualquer tipo de feitiço ou qualquer outro tipo de negatividade que esteja sobre o Orí de uma pessoa.
Quando em um EBO, ovos crus são atirados no chão ou quebrados em cima do corpo de uma pessoa, que vulgarmente este ato é chamado de descarrego; terá a finalidade fazer uma modificação nos caminhos desta, tirando as dificuldades da vida da pessoa ou qualquer força energética negativa.
Ao ser quebrado, ele revela sua riqueza e seu poder; pois no exato momento que é quebrado, o ovo não terá mais a possibilidade de germinar, ou seja, nascer algo dele, em uma substituição ou troca, que acabará com o problema que aflige a pessoa, possibilitando o fim uma situação negativa.
Por este motivo é que o ovo cru deve ser quebrado, principalmente no ORÍ dos OMO ÒRÌSÀ KON, em uma preparação do ORÍ, que logo depois irá receber os outros elementos que fazem parte para a veiculação e transmissão do poder do Àse.
Começando primeiramente pelo ÈJÈ DÚDÚ o ÀGBO, em seguida o ÈJÈ PUPA das aves ou quadrúpedes, e, finalmente o ÈJÈ FUNFUN do ÌGBÍN, colocado por cima de tudo; purificando e possibilitando a existência e a veiculação e transmissão do ÀSE.
Com a união dos três sangues primordiais, após ter sido purificada com o ovo cru, possibilita assim a pessoa a obter sorte, dinheiro, felicidade, prosperidade, saúde, tranqüilidade e paz.
Quando um ovo é quebrado em qualquer ritual, o nome das ÌYÁMI-ÒSÒRÓNGÁ é respeitosamente citado e reverenciado, porque, qualquer que seja o ovo, este lhe pertencerá, como relata vários ITAN dos Tratados de IFÁ – Corpo Literário de IFÁ
Quebrar um ovo na rua atirando ao chão pela manhã, por três ou sete dias consecutivos, chamando por ELÉGÁRA e ÌYÁMI-ÒSÒRÓNGÁ, e espargindo dendê por cima do ovo, é um simples e poderoso ritual do Culto a ÌYÁMI-ÒSÒRÓNGÁ; com a finalidade de afastar qualquer tipo de dificuldade ou prejuízo, acalmando qualquer energia desfavorável no caminho de uma pessoa.
O OVO DE PATA-PÉPÉYE
O “Ovo de pata” é o símbolo da vida e umas das proibições de Ikú.
A utilização do ovo de pata cru é essencial em certos rituais, tendo como finalidade quebrar as forças da morte, das doenças e das perdas.
Quando cozido e esfarinhado, é utilizado como agente purificador, quando é passado pelo corpo de uma pessoa em EBO de EGÚNGÚN ou ONÍLÈ.
Com casca e seco ao sol, transformado em pó, é utilizado no IGBÁ-Orí e assentamentos de ÒRÌSÀ que tenham relação com Ikú.
“Ovo de pata cru:” enfraquece a força da morte, doenças graves e perdas.
Assim, o ovo de pata pode ser utilizado nos EBO IKÚ, tirando qualquer tipo de morte, seja material, espiritual, financeira ou sentimental.
OVO DE GALINHA – ABO ADIE
Ovo de galinha cru: purifica e tranqüiliza.
Ovo de galinha cozido: tira doenças.
Ovo de galinha esfarinhado: neutraliza negatividade do ambiente, atrai prosperidade e abundância.
OVO DE CODORNA
Ovo de codorna: Neutraliza feitiços.
OVO DE GALINHA D’ ANGOLA- ETÙ
Ovo de D’ Angola: traz dinheiro, sorte, prosperidade, riqueza e sucesso nos negócios.
OVO DE POMBA-EYELÉ
Ovo de pomba: traz tranqüilidade e fertilidade.

domingo, 5 de julho de 2015

Iansã oya



Dia: Quarta-feira
Cores: Marrom, Vermelho e Rosa
Símbolos: Espada e Eruexin
Elementos: Ar em movimento,qualquer tipo de vento, Fogo
Domínios: Tempestades, Ventanias, Raios, Morte
Saudação: Epahei!

Oyakedeun kete kete ookorifun – Morreu distintamente com seu marido.
Oyakoná fun sanan. – Iyamsan solta fogo pelas narinas.
Oya aferé iku – Iyamsan a Senhora dos ventos da morte.
Obori mesan – Iyansan tem nove cabeças.
Iya omó mesan – Mãe dos nove filhos.
Senhora da tarde, Dona dos espíritos, Carregadeira de ebó, Senhora dos raios e tempestades. Estes são alguns dos nomes de Oyá, entre outros.
De acordo com alguns itan, Oya foi uma princesa real da cidade de Irá, na Nigéria. Sobrinha neta do rei Elempe e neta de Torosi (mãe de Xangô). Conquistou com valentia, coragem e dedicação seu caminho para o trono de Oyó.
Conhecedora de todos o meandros da magia encantada, Oya nunca se deixou abater por guerras, problemas ou disputas. Nobre guerreira, jamais tripudiou sobre inimigos e rivais vencidos.
Foi mulher de Xangô e o ajudou a conquistar os reinos que foram anexados ao império ioruba. Porém, quando ele tentou invadir Nupe e Tapam, onde Ọya havia nascido, ela o abandonou e postou-se na entrada daquelas cidades disposta a enfrentá-lo.
Como nem mesmo Xangô ousou desfiá-la, ninguém passou. Oya é a menina dos olhos de Òxalá, seu protetor, a única divindade que entra no gbale de Ègún, por seu poder de onisciência.
Segundo os itan Oya foi no entanto, a única mulher de Xangô que ao final de seu reinado seguiu-o na sua fuga para Tapá. E quando Xangô se recolheu em baixo da terra em Koso, ela fez o mesmo em Irá.
Antes de se tornar mulher de Xangô, Oya viveu com Ògún. Ela fugiu com Xangô e Ògún enfurecido resolveu enfrentar seu rival, mas este último foi a procura de Olódùmarè para confessar que havia ofendido Ògún. Olódùmarè interveio junto a Ògún e recomendou-lhe que perdoasse a afronta e disse: "Ògún jo agbá Xàngó" "você Ògún é mais velho que Xàngó", preserve sua dignidade aos olhos de Xàngó e dos outros orixás, você não deve se aborrecer nem brigar, deve renunciar a Oya. Mas Ògún não foi sensível a esse apelo e lançou-se a perseguição de Oya e Xangô. Trocou golpes de varas mágicas com Oya que foi então, dividida em 9 partes. Este número nove ligado a Oya, está na origem de seu nome Iyamesan e encontra-se essa referência no ex Dahomé onde o culto de Oya é feito em Porto Novo sob o nome de Avesan no bairro akron (lokoro dos yorubá) e sob o de abesan, mais ao norte em Baningbe. Esses nomes teriam por origem a expressão Aborimesan (com nove cabeças) alusão aos nove braços do delta do Rio Niger. Fica aqui evidente que Oyá é cultuada pelos povos adoradores de Vodun mesmo na África, e portanto, não é coisa de Brasil. E fica claro também que o culto a Oyá é distinto ao culto a Vodun-jó.
Oya é filha de Iyemanja e Òxàlá.
Sua cor é branco com rosa estampado com vermelho, coral, vermelho, marron.
Natureza ossuário, jardim, caminhos, cumes e vento.
Oyá gosta de objetos ornamentados com cobre e prata.
As oferendas prediletas de Oyá são acarajé, ekuru.
Toque principal: Ylú. Também conhecido como quebra-pratos.
Salve Oya - Aquela Que Monta Com O Vento!
O maior e mais importante rio da Nigéria chama-se Níger, é imponente e atravessa todo o país. Rasgado, espalha-se pelas principais cidades através de seus afluentes por esse motivo tornou-se conhecido com o nome Odò Oya, já que ya, em iorubá, significa rasgar, espalhar. Esse rio é a morada da mulher mais poderosa da África negra, a mãe dos nove orum, dos nove filhos, do rio de nove braços, a mãe do nove, Ìyá Mésàn, Iansã (Yánsàn).

Embora seja saudada como a deusa do rio Níger, está relacionada com o elemento fogo. Na realidade, indica a união de elementos contraditórios, pois nasce da água e do fogo, da tempestade, de um raio que corta o céu no meio de uma chuva, é a filha do fogo-Omo Iná.

A tempestade é o poder manifesto de Iansã, rainha dos raios, das ventanias, do tempo que se fecha sem chover.

Iansã é uma guerreira por vocação, sabe ir à luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Ela sabe conquistar, seja no fervor das guerras, seja na arte do amor. Mostra o seu amor e a sua alegria contagiantes na mesma proporção que exterioriza a sua raiva, o seu ódio. Dessa forma, passou a identificar-se muito mais com todas as actividades relacionadas com o homem, que são desenvolvidas fora do lar; portanto não aprecia os afazeres domésticos, rejeitando o papel feminino tradicional. Iansã é a mulher que acorda de manhã, beija os filhos e sai em busca do sustento.

O facto de estar relacionada com funções tipicamente masculinas não afasta Iansã das características próprias de uma mulher sensual, fogosa, ardente; ela é extremamente feminina e o seu número de paixões mostra a forte atracção que sente pelo sexo oposto. Iansã (Oyá) teve muitos homens e verdadeiramente amou todos. Graças aos seus amores, conquistou grandes poderes e tornou-se orixá.

Assim, Iansã tornou-se mulher de quase todos os orixás. Ela é arrebatadora, sensual e provocante, mas quando ama um homem só se interessa por ele, portanto é extremamente fiel e possessiva. Todavia, a fidelidade de Iansã não está necessariamente relacionada a um homem, mas às suas convicções e aos seus sentimentos.

Algumas passagens da história de Iansã relacionam-na com antigos cultos agrários africanos ligados à fecundidade, e é por isso que a menção aos chifres de novilho ou búfalo, símbolos de virilidade, surgem sempre nas suas histórias. Iansã é a única que pode segurar os chifres de um búfalo, pois essa mulher cheia de encantos foi capaz de transforma-se em búfalo e tornar-se mulher da guerra e da caça.

Oyá é a mulher que sai em busca do sustento; ela quer um homem para amá-la e não para sustentá-la. Desperta pronta para a guerra, para a sua lida do dia-a-dia, não tem medo do batente: luta e vence.

Características dos filhos de Iansã / Oyá

Para os filhos de Oyá, viver é uma grande aventura. Enfrentar os riscos e desafios da vida são os prazeres dessas pessoas, tudo para elas é festa. Escolhem os seus caminhos mais por paixão do que por reflexão. Em vez de ficar em casa, vão à luta e conquistam o que desejam.

São pessoas atiradas, extrovertidas e directas, que jamais escondem os seus sentimentos, seja de felicidade, seja de tristeza. Entregam-se a súbitas paixões e de repente esquecem, partem para outra, e o antigo parceiro é como se nunca tivesse existido. Isso não é prova de promiscuidade, pelo contrário, são extremamente fiéis à pessoa que amam, mas só enquanto amam.

Estas pessoas tendem a ser autoritárias e possessivas; o seu génio muda repentinamente sem que ninguém esteja preparado para essas guinadas. Os relacionamentos longos só acontecem quando controlam os seus impulsos, aí, são capazes de viver para o resto da vida ao lado da mesma pessoa, que deve permitir que se tornem os senhores da situação.

Os filhos de Oyá, na condição de amigos, revelam-se pessoas confiáveis, mas cuidado, os mais prudentes, no entanto, não ousariam confiar-lhe um segredo, pois, se mais tarde acontecer uma desavença, um filho de Oyá não pensará antes de usar tudo que lhe foi contado como arma.

O seu comportamento pode ser explosivo, como uma tempestade, ou calmo, como uma brisa de fim de tarde. Só uma coisa o tira do sério: mexer com um filho seu é o mesmo que comprar uma briga de morte: batem em qualquer um, crescem no corpo e na raiva, matam se for preciso.

Orikí de Oyá. Eèpàrìpàà! Odò ìyá!

“ORI O! ORI OYA,
MO GBE DE. OYA MESAN, MESAN, MESAN.
OYA ORIRI, O, O, O.
OYA MESAN,
A JI LODA ORISA.
ORI O
ORI OL’ OYA,
MO GBE DE.
ORI MI!
ORI OYA , MO GBE DE.”

“O ORI do iniciado,
O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui.
OYA , que se desdobra em nove partes.
OYA , a grande mulher, charmosa e elegante.
OYA , que se desdobra em nove partes.
ORISA que usa a espada ao acordar.
O ORI do iniciado,
O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui.
Meu ORI.
O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui.”

Na Mitologia Yoruba, o nome Oyá provém do rio de mesmo nome na Nigéria, onde seu culto é realizado, atualmente chamado de rio Níger. É uma divindade das águas como Oxum e Iemanjá, mas também é relacionada ao elemento ar, sendo uma das divindades que ao lado de Ayrá e Orixá Afefê controla os ventos. É conhecida também como Iansã.

Costuma ser reverenciada antes de Xangô, como o vento personificado que precede a tempestade. Assim como a Orixá Obá, Oyá também está relacionada ao culto dos mortos, onde recebeu de Xangô a incumbência de guiá-los a um dos nove céus de acordo com suas ações. Para assumir tal cargo recebeu do feiticeiro Oxóssi uma espécie de erukerê especial chamado de Eruexim com o qual estaria protegida dos Eguns. Oyá é a terceira deusa de temperamento mais agressivo, sendo que a primeira é Opará e Obá é a segunda.

O nome Iansã trata-se de um título que Oyá recebeu de Xangô que faz referência ao entardecer. Iansã quer dizer A mãe do céu rosado ou A mãe do entardecer. Era como ele a chamava pois dizia que ela era radiante como o entardecer.

Os africanos costumam saudá-la antes das tempestades pedindo a ela que apazigue Xangô o Orixá dos trovões, raios e tempestades pedindo clemência.

Os devotos costumam lhe oferecer sua comida favorita, o àkàrà (acarajé), ekuru e abará.

No candomblé a cor utilizada para representá-la é o marrom, ainda que seja mais identificada com a cor rosa. No Brasil houve uma grande distorção com relação as suas regências e origens.

Inhansã ou Oiá, como é também chamada no Brasil, é uma divindade da Mitologia Yoruba associada aos ventos e às águas, sendo mulher de Xangô, o senhor dos raios e tempestades.

É saudada como "Iya mesan lorun", título referente à incumbência recebida como guia dos mortos. Iansã é associada a sensualidade, dos Orixás femininos é uma das mais guerreiras e imponentes.
                                                                                                                     



Saudação: Epa - hei,Oia!
Dia: Quarta-feira.
Cores: Marrom, vermelho, rosa e branco.
Símbolos: irukerê, espada de cobre.
Proibições: Abóbora, arraia e carneiro.
 
Sete folhas mais usadas para Oya
Botujé
Ewê diji
Okpá orô
Ewê mensã
Tanaposó
Akoko
Obé semi O
Arquétipo
Suas filhas, ou mulheres que tenham Iansã próximo de si (como madrinha por exemplo ou "mãe") na Terra, são mulheres sensuais, ousadas, falam o que pensam e sofrem muito, seja por qualquer motivo, especialmente no amor. São mulheres que batalham, trabalham incansavelmente, são guerreiras, lutam como peões. Geralmente esas mulheres cuidam de tudo sozinha, até dos filhos.

Cultura afro-brasileira
Em Salvador, Oyá ou Iansã é sincretizada com Santa Bárbara que é madrinha do Corpo de Bombeiros e padroeira dos mercados. É homenageada no dia 4 de dezembro na Festa de Santa Bárbara da Igreja Católica. É um grande evento sincrético, composto de missa, procissão feita por católicos e praticantes do Candomblé1 , além das festas nos terreiros, o caruru de Iansã, samba de roda e apresentação de grupos de capoeira e maculelê.

O filme O Pagador de Promessas, um drama escrito e dirigido por Anselmo Duarte e baseado em história de Dias Gomes, foi filmado inteiramente na porta da Igreja de Santa Bárbara em Salvador, Bahia.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Os caminhos de Sakpatá



Carlos Oxun  Yómi  de Camargo
Babalorixá do Ilê Axé Egbé N’Ji Bun Mi


Se há, nos cultos afro-brasileiros, bem como na África, uma entidade assustadora, difícil de compreender, é Omulu – Obaluaê – Xapanã – Sakpatá, de quem, muitos acreditam, não se deve nem falar o nome. Esta divindade é mal compreendida até por seus filhos. Para entendê-la, precisamos saber suas origens, o tipo de sociedade em que nasceu e as transformações por que passou em função da história dos homens. É o que nos mostra a antropóloga Claude Lépine, em seu trabalho "As metamorfoses de Sakpatá, deus da varíola", do qual aqui apresentamos um extrato.
Embora no Brasil tenhamos a idéia de que Omulu ou Obaluaê constituam uma mesma divindade, também denominada entre nós Sakpatá ou Xapanã, orixá-vodum cultuado como o deus da varíola, da peste, da doença, na verdade os deuses da varíola na África, especialmente entre os iorubás ou nagôs e os jejes, têm várias origens e só depois de vários séculos acabaram fundidos numa única divindade tal como a conhecemos no Brasil.
Os templos do deus da varíola encontram-se freqüentemente fora das cidades, em lugares isolados e seus mitos relatam constantes brigas com outros deuses. No Brasil seus assentamentos ficam também isolado dos demais. É considerado uma divindade “muito velha” – eu diria muito antiga. 
Acredita-se que a origem de Sakpatá seria o país iorubá e seus adeptos são chamados até hoje Anagonu. Esta origem parece bem estabelecida: seu culto fora introduzido no Dahomé (atual Benin) no séc. XVIII, pelo rei Agajá, após uma terrível epidemia de varíola que havia dizimado seu exército.
Encontramos Sakpatá e seus equivalentes estabelecidos em toda a área cultural ajá–iorubá. Suas principais denominações são :

Xapanã (para os iorubás) = Obaluaê = Rei dos donos da Terra e Sakpatá (Dahomé) = Ainon = Dono da Terra, dois nomes diferentes da mesma divindade; que tem por altar um pequeno monte de terra, sobre o qual estão inseridos, de cabeça para baixo, duas ou três panelas de barro cheias de furinhos.

Omulu e Olu Odô  - divindades regionais originárias do Oeste, associados à água; que em Ketu passaram a se confundir com Xapanã – Obaluaê onde podemos supor que tinham algumas funções em comum; possivelmente associadas ao culto dos primeiros antepassados que ocuparam o local.

Buruku -  encontrada sobretudo no Oeste, mas conhecida também em Ilê–Ifé e em Oyó e até em território Nupê – suas atribuições não são bem definidas. 
No Leste – Buruku é uma divindade da varíola e se confunde com Xapanã.
No Oeste – em Atakpamè – assume feições de deus supremo. 
    - em Dassa – é representada por um montículo de terra, como Sakpatá.
Por outro lado, Buruku é freqüentemente associado a Nanã, antiga divindade da terra, tratando-se às vezes da mesma divindade. No Brasil Buruku é nome de Nanã, chamada Nanã Buruku, ou Bulucã.

O roteiro das migrações dos antepassados dos povos Ajá–iorubá, (proto-iorubás  dos séculos. V, VI e VII) constitui numa grande área cultural, onde podem ser observadas marcantes semelhanças ao nível das instituições sociais e políticas dos costumes, das práticas e crenças religiosas :
um deles, em forma de teia de aranha, é o dos iorubás, que teriam vindo do
      Leste para Ilê–Ifé, se irradiando em todas as direções;
o segundo, o dos ajás, percorre um caminho Leste–Oeste, de Oyó até Tado,
onde se divide em duas linhas, uma para Oeste a outra para o Sul.

Vejamos agora os principais centros de culto de Sakpatá :

Entre os Igala da região de Idah, a divindade da varíola chama-se Iye, isto é, 
provavelmente Aiyê ou seja o mesmo que Obaluaê.

Para os Akoko (Ogori, Estado de Kwara, Nigéria), a deusa da varíola é Iyá  
Okeká, a Grande Mãe.

O deus da varíola, entre os Igbo, é Ojuko. Os Igbo cultuam também uma
divindade da Terra chamada Ale, Ala ou Ana (seria Ilé, Onilé dos iorubás, ou 
 Nanã).

Em Ilê-Ifé existe uma divindade chamada Obaluaê, associada à terra e à 
      agricultura, e também aos mortos e antepassados. Dizem que Obaluaê
      estava estabelecido na região, em Oke Itaxe, bem antes da chegada de    
      Oduduwa. Há outra divindade, Buku, que traz a varíola.

Obaluaê teria vivido em Oyó no tempo do fundador da dinastia real, Oranyián. Dizem que era um guerreiro cruel, que acabou emigrando para o país dos Mahi, onde se fixou. Segundo outra tradição, Obaluaê era rei de Oyó e Oranyián roubou-lhe o trono. Dizem também que veio do país Nupe, onde teria sido um rei muito poderoso. Buruku também é conhecido nesta cidade, sendo responsável pela varíola.

Em Ibadan, Buruku e Xapanã são a mesma divindade. Buruku teria vindo do
Oeste, do Dahomé, terra dos jejes, ou do Togo. Teria vindo de Tapá ou Nupe, onde era um rei muito poderoso. Até hoje Obaluaê é chamado Elempê, isto é, rei de Nupe. Podemos imaginar que eram duas divindades distintas, que acabaram por se fundir.

Em Abeokutá, Buruku e Omulu são cultuados no mesmo templo, o que deve significar que eles mantêm algum parentesco ou que eles foram instalados pelo mesmo grupo. Buruku teria vindo de Savé e Omulu, do Dahomé. Omulu é uma divindade das águas, e nos sacrifícios rituais que lhe são oferecidos não se deve usar faca de ferro, costume preservados no Brasil no culto de Nanã e Omulu.

Dizem em Savé que Sakpatá (Xapanã) veio de Oyó. Buku, por sua vez, é  dito ter vindo do Oeste. Existe também Olu Odo, divindade das águas, que apresenta todas as características de Omulu. Teria vindo de Aixê  ou de Ajá Popó.

em Ketu, Xapanã, Omulu e Obaluaê são a mesma divindade. Segundo alguns, ela veio de Dassa Zoumé; segundo outros, veio de Aixé ou de Aja Popo, aldeias situadas a Oeste de Ketu. Como o candomblé brasileiro deve muito às tradições trazidas da cidade de Ketu, tanto que a nação dos primeiros terreiros leva a denominação desta cidade, é possível que a fusão de Xapanã, Omulu, Obaluaê e Sakpatá se deva a essas tradições.

Em Dassa Zoumé, Xapanã é aí o mesmo que Sakpatá, e dizem que ele veio de Tapá. Buku veio de Atakpame, a Oeste.

Em Alladá, o deus da varíola seria Houeci ou Houessio, entidade da família do píton (cobra) Dangbê, e associada aos Antepassados.

Em Abomey, capital dos jejes, como já sabemos, Sakpatá foi trazido por Agaja no século XVIII; e dizem que ele veio de Dassa Zoumé.

São muitas, portanto, as denominações do deus da varíola. O culto da Terra, junto com o dos Antepassados, teria sido a primeira forma de religião dos povos iorubás e ajás, desenvolvido por uma sociedade agrícola e por isso os deuses do panteão da Terra seriam os primeiros orixás-voduns a terem sido cultuados por iorubás e jejes que deram origem ao candomblé brasileiro. Mas outras divindades da Terra poderia até ser mais antiga do que o nosso Rei da Terra, Obaluaiê-Sakpatá-Omulu-Xapanã. Por exemplo, temos o caso de Aziza, uma importante crença desses povos antigos, que é uma entidade que povoa o mundo fantástico das florestas. Aziza é um ser habitualmente invisível, que pode assumir, se o desejar, a aparência de qualquer criatura, animal ou humana. Aziza é o rei da floresta e dos animais; Aziza pode ser associado também como um membro da categoria dos “tricksters”. Os tricksters são entidades trapalhonas e zombeteriras, das quais Exu e Legba têm muitas características; são criaturas indefinidas em todos os sentidos e essencialmente ambivalentes em suas relações com os homens, ora protegendo-os, ora voltando-se contra eles, sem motivo aparente. Possuem hábitos nômades, a capacidade em transformar-se em animais, objetos; matam velhos ou crianças, raptam donzelas, mudam de sexo...  
Os voduns e os orixás foram, na origem, antepassados divinizados. No decorrer do tempo, os ancestrais divinizados das linhagens de chefes e, sobretudo, os da famílias reais, passavam a exercer novas funções em nível da cidade, e acabavam por se destacar do seu clã de origem  para tornar-se objeto de um culto local e até étnico. Muitos antepassados, depois de divinizados, isto é, transformados em orixás ou voduns, eram levados de sua cidade para outras, quer em conseqüência das guerras intertribais de conquistas, quer pelas redes comerciais, de modo que cultos locais podiam se transformais em cultos regionais, às vezes ocupando todo o território cultural. Alguns orixás cultuados no Brasil já eram no tempo da chegada dos escravos orixás nacionais, como Xangô, Ogum e Obaluaê, enquanto outros eram orixás meramente locais, como Oxóssi e Logum Edé.
Sakpatá  ou Xapanã, deve ter sido originariamente o antepassado fundador de algum grupo que se originou do povo Nupe ou Tapá, que vive ao norte do território iorubá. Com a dispersão desse povo muito antigo, passou por um processo de multiplicação, em função da segmentação do grupo primário. Todos os clãs que vieram do Leste para ocupar a região do Golfo do Benin traziam o culto do seus primeiros antepassados e Sakpatá foi um deles.

Até os dias de hoje, Sakpatá é concebido como uma figura paternal, que protege seus descendentes, mas também cuida que sejam respeitadas as regras que ele estabeleceu,  castigando os infratores, retirando-lhes a prosperidade, a saúde, a fecundidade e até a vida. Estas funções são características dos antepassados, que zelam pelo grupo e pela manutenção de suas tradições, usos e costumes.
As doenças atribuídas à sua cólera foram provavelmente, desde cedo, doenças da pele doenças eruptivas, cujo aspecto lembra sementes brotando do chão. Sakpatá, Xapanã e os “reis da Terra”, em geral, estão associados à agricultura e à fertilidade do solo; dão aos homens os grãos, cereais e feijões. Eles também governam as condições atmosféricas que influenciam a agricultura: a chuva, as secas, a luz do sol, o calor... Sakpatá é, assim, também um deus da riqueza, saudado como “ Rei da Terra “, “Rei das Contas “ (símbolo de realeza), “ Dono de Todas as Riquezas”, poderoso, magnífico.
Em nossa época, Sakpatá, aparece com o nome genérico de todo um grupo de divindades locais organizadas numa família, e que constituem o panteão da Terra. Os diversos membros da família especializam-se em algumas funções: controlam as águas do rios, a água potável, a luz do sol, vigiam os campos...
Mas, ao mesmo tempo, Sakpatá foi cada vez mais associado, na mente das pessoas, à varíola. Este processo deve ter começado no século XVIII, provavelmente na segunda metade. No século XIX já parecia  ter-se metamorfoseado numa horrível entidade que sai a caçar na estação da seca, acompanhada por um bando de espíritos maldosos, matando, deformando, aleijando. Ele apareceu aos olhos dos europeus como uma força inteiramente negativa, identificada pura  e simplesmente com a “Varíola”. Com o nome de Xapanã, simboliza forças anti-sociais: ele representaria a revelação descontrolada e integral daquilo que deve permanecer oculto, afirmando-se como divindade do segredo. 
A varíola, ao fazer estourar a pele negra que encobre o corpo humano, revela a intimidade da carne vermelha, que normalmente deve ficar escondida. Por esta razão, jogar água na terra sem pedir previamente autorização, “Agô”, é o tabu mais difundido de Xapanã. Com efeito, a água retira a camada superficial de húmus negro e revela a terra dissimulada por ele. Por analogia, jogar água na terra eqüivale a chamar a varíola. 
Xapanã representaria o oposto de Fá ou Ifá e de Obatalá  (equivalente  iorubá de Lissá). Ifá representa o segredo do destino que o adivinho (bokonon ou babalaô) só em parte revela, de forma ritual e controlada. Xapanã opõe-se também a Obatalá ou Lissá, que simboliza a sociedade urbana e a monarquia, que também repousam no segredo. Nas sociedades tradicionais, o segredo deve envolver os rituais de cada culto, os negócios de cada associação, as deliberações do poder . É no segredo, no controle do conhecimento que se apoia o poder dos mais velhos, chefes e sacerdotes. Sakpatá representaria a quebra do segredo, por isso representa a destruição da cultura e da sociedade tradicionais; por isso seria uma divindade do exterior, o que vem de fora, o estrangeiro, que odeia reuniões e atividades culturais como dança e música, e vive só no mato. 
Sakpatá é assim uma divindade particularmente ambivalente, benéfica e maléfica ao mesmo tempo, que traz a doença e a cura, a vida e a morte. Esta ambivalência, aliás, é própria de todos os voduns. Com o nome de Omulu e Obaluaê dos iorubás, carrega essas mesmas características. 
Com o fim da varíola, no século XX, controlada pela vacina e pela saúde pública, Sakpatá-Omolu-Xapanã-Obaluaê, qualquer que seja o nome que se dê, foi perdendo a associação com a varíola, que hoje já ninguém mais tem por que temer, passando a ser para os iorubás descendentes do Brasil o orixá da doença genérica, da peste, e atualmente da AIDS, mas, acima de tudo, o deus da cura das moléstias, como também ocorre em Cuba, onde é chamado Babaluaiyê, ganhando entre nós o emblemático apelido de “ Médico dos Pobres”. Atotô!